‘Frozen’? Não, ‘O Castelo de Gelo’!

Ao longo dos seus mais de 70 anos, o norueguês Tarjei Vesaas (1897 — 1970) foi um escritor muito ativo. Publicou mais de 30 livros entre romances, coletâneas de contos e ensaios; fez ainda inúmeras colaborações para revistas e jornais. Na Noruega, Vesaas é considerado um dos grandes autores do país e, talvez, o maior que surgiu depois da II Guerra Mundial. [Até que apareceria, em 2009, Karl Ove Knausgård, mas essa já é outra história].

Considerado uma de suas obras-primas, o título “O Castelo de Gelo” (Todavia) é seu primeiro livro publicado no Brasil — com tradução de Leonardo Pinto Silva, que também verteu o Knausgård para o PT-BR. Ligeiro, certeiro e magnético o livrinho do norueguês nos atinge feito uma bola de neve, ou melhor, uma pedra de gelo mesmo. Não é fofinho nem se dissolve ao nos tocar; corta, penetra, comove, mexe conosco.

O livro conta a história da amizade entre Siss e Unn, ambas com 11 anos e moradoras de um vilarejo na Noruega. A extrovertida e falante Siss é a líder natural de sua turma escolar, mas ela passa a ficar intrigada com a tímida e inteligente Unn, uma órfã recém-chegada ao vilarejo. Ambas se aproximam, desenvolvem uma química instantânea e interesse mútuo.

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Um dia, porém, Siss vai à escola, mas não encontra a nova amiga. Unn tinha saído sozinha para passear nos arredores desconhecidos do vilarejo e se perdeu explorando um castelo de gelo — na verdade, uma cachoeira congelada e formando um labirinto de paredes e possibilidades nas grutas atrás dela.

Se eu falasse aqui que o livro aborda a muitas vezes conturbada passagem da infância à pré-adolescência, seria muito reducionismo. É sobre isso e sobre muitas outras coisas. Medos, tensões, hesitações vem à tona ou são reprimidos na medida em que a história avança. Ao mesmo tempo em que acontece a procura pela garota desaparecida, Siss faz uma busca em si mesma, vasculhando seus pensamentos, desejos e autoestima, definindo-se como a pessoa que deseja vir a ser.

O autor consegue equilibrar muito bem a parte psicológica com as ações no romance, e tudo isso sob um clima muitas vezes fabular, mágico — bem ao estilo de mitos nórdicos. “O Castelo de Gelo” é um pequeno grande livro. Quando minha filha estiver com a idade de lê-lo, já tem um presentinho aqui separado para ela; muito melhor que “Frozen”.

Serviço
O Castelo de Gelo, de Tarjei Vesaas 
Tradução de Leonardo Pinto Silva
Editora Todavia, 176 páginas

Links para comprar o livro físico ou digital. Preços variam entre as lojas.

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